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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O tique pianista

O facto de alguém poder mudar e controlar o seu próprio destino é a conclusão a que todos chegamos. Criamos o nosso próprio universo com o desenrolar das coisas, mas outros como Thomas Brown não tiveram voto na matéria.
Um rosto marcado, um olhar penetrante, uma expressão sólida e um coração inato num corpo tão jovem.
Era ele, inconfundivelmente, o pequeno Thomas Brown.
Lá estava tudo, uma fraca barreira o separava de tudo o que algum dia imaginara. Dois passos revelariam todos os segredos, medos, desejos e, pior, revelariam esperanças...
Aquilo desafiava-o a um duelo e, deixando os dedos correr pelo material rugoso, enfrentava o fim. Contudo, esse material rugoso passou a madeira fria e o fim tinha acabado de se transformar no mero início. Sem muita convicção, afastou-se da grade de madeira e, lenta e pesadamente, atravessou as dunas brancas até onde as ondas morrem na areia. O sol de fim de tarde beijava-lhe levemente a pele lívida. O vento sussurrava aos seus ouvidos enquanto deixava o seu encrespado cabelo esvoaçar. Os dedos dos pés estavam cobertos pela areia e, olhando em frente fixamente o longínquo horizonte, pela primeira vez não sentiu medo.
Um menino.
Dois...
Três... passaram por ele a atirar água e a rir.
Dali nada parece inalcançável , tudo parece estar longe.
A primeira estrela! Um beijo perdido e uma despedida rouca. Poderia dizer-se que estava em casa, mas não.
Nunca mudaremos aquilo que somos por medo de não gostarmos daquilo que seremos. Thomas jamais mudaria. Até agora. Agora que não tinha nada, agora sentia-se o ser mais perdido do planeta, agora...
Mexendo os dedos como se tocasse piano, desapareceu, como que por magia, sumindo, deixando para trás uma praia vazia...

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