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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Uma noite louca

Já no quarto do Hotel, número 142, Miranda pendurou o casaco bege no bengaleiro atrás da porta, fechou-a, e acendeu um cigarro. Pousou o maço na pequena mesa de madeira escura junto ao canapé persa cinzento e serviu-se de uma cerveja do mini-bar. Sentou-se confortavelmente no canapé bebendo da garrafa, após de se ter descalçado. O tapete shaggy azul escuro que cobria grande parte da sala, permitia-lhe andar descalça causando nos seus delicados pés nus ligeiras cócegas. Via a televisão, no canal da CNN, o seu preferido.
Hora e meia mais tarde, um toque polifónico estridente silvou. Foi o telefone em cima da mesa de madeira escura, ao lado do maço de tabaco. Naturalmente, atendeu-o:
-Um senhor Zummer diz conhecê-la, mas…
-Marcus Zummer? -atalhou ela.
-Esse mesmo, senhora.
-Mande-o subir.
Logo após cinco minutos, ao fundo do corredor, soou a campainha do elevador e Marcus saiu dele caminhando até à porta entreaberta número 142. Ele não aguardou e entrou logo fechando a porta atrás de si. O fumo do cigarro já apagado, ainda se sentia um pouco.
Miranda estava do outro lado da sala encostada ao umbral da porta, ao lado da grande janela de cortinas azuis escuras como o tapete que sobressaiam os tons brancos e beges da sala. Ela passeou até ele de forma bastante sensual, despenteada e vestida apenas com o robe de seda vermelho com o símbolo do Hotel no peito esquerdo, meio aberto. Claramente se via que não trazia roupa interior.
Num doce beijo, Miranda sorriu de saudade e Marcus abriu-lhe mais o decote até estarem os seios quase de fora. Ela riu, pois sabia no que ele pensava.
-Meredith continua assim tão cega?
-Jantarada com os colegas de trabalho, sabes como é… -respondeu. Marcus encostou-a à parede de forma violenta segurando-a pelos ombros e roubando-lhe um beijo, dando meia volta e arrastando-a até embater na mesa de madeira escura. A garrafa de cerveja tombou e rolou para debaixo do canapé. Num empurrão delicado, ela afastou Marcus que lhe beijava o pescoço e foi servir-lhe um whisky do mini-bar com dois cubos de gelo saídos directamente do congelador. Ele, num olhar vadio bebeu-o sentindo o líquido alaranjado correr-lhe pela garganta, apreciando o bafo seco do ar condicionado por cima dele.
Somente restaram os cubos quase derretidos no copo vazio que Marcus pousou na mesa do telefone. Agarrou em Miranda e começou novamente a dar-lhe beijos, a qual se encontrava de costas para ele olhando pela janela. Fechou os olhos e deixou levar-se pelo desejo sexual que consumia a ambos.
-Escuta-me… -pediu tentando libertar a sua boca da dele -e se o fizéssemos no meu carro?
-A 120 quilómetros por hora deve ser do melhor… -acrescentou ele que a largou de seguida para que ela se preparasse.
Descendo pelo elevador, Miranda ajeitava o cabelo despenteado que lhe dava um certo estilo, em frente ao espelho iluminado. Através dele pôde notar como Marcus a apreciava. A típica análise rápida de um homem interessado numa mulher, mas interessado de uma só maneira!

Um final

O que o levara a ter aquela vida? O que o motivara? O que falhara?
Talvez fosse por culpa dos sentimentos reprimidos, ou da sua infância renegada. Estava prestes a morrer e, sim, era nisso em que estava a pensar. Tudo se ia desvanecendo em tons escuros com sons indecifráveis aos seus ouvidos  à mistura. Tudo se ia perdendo…

Numa aldeia rural isolada, de dia mergulhada na calma e tranquilidade e de noite, submersa na mais profunda negrura e temor, cercada por uma floresta encantada, existia uma lenda.
Esta pequena aldeia tinha uma particularidade, no interior das casas havia pelo menos cinco ou seis espelhos, de qualquer tamanho, e de noite era posto um à porta do lado exterior de cada casa. Quem por ali passasse e não soubesse o nome da aldeia, tomá-la-ia por uma guarida de bruxas ou demónios. Apesar de tudo não o era.
            As pessoas que ali viviam eram honradas, vulgares, viviam do seu trabalho, e nunca saiam dali.
Dizia-se que por ali habitava um lobisomem que aterrorizava os aldeões e a própria aldeia durante a noite, destruindo tudo à procura de alimento e uivando como louco. A história dos espelhos entra agora. Se o lobisomem visse o seu reflexo no espelho, o lobo que levava dentro ficaria preso dentro desse espelho e o homem ficaria livre. Para acabar com a maldição de uma vez, seria necessário partir o espelho sem olhar para ele, para não correr o risco do lobo escapar. Daí os espelhos serem um repelente poderosíssimo contra ele. O lobisomem não ousava aproximar-se das casas e, muito menos entrar nelas. Alguns aldeões, antes do anoitecer, hora da recolhida, punham um cordeiro ou uma cabra presa perto do poço da praça para matar a fome do lobisomem e assim não forçar as suas casas, apesar de não poder. Se tu procuras uma noite bem dormida, este não é o local para ti. Sempre que se ouvia o seu horripilante uivar, as pessoas tremiam e gelavam, ficando paralisadas de pavor não ousando mexer-se sequer.
            Até que um dia, a curiosidade aliada à ingenuidade de um pequeno jovem de sete anos, tudo mudou. O pequeno, ao escutar os primeiros uivos mancharem a noite com sangue de cordeiro, esgueirou-se pela janela bem vedada e protegida, com um espelho na mão meio escondido atrás das costas, sem que nada nem ninguém soubesse.
Escapuliu-se em silêncio, como quem segue outro alguém em segredo. Espreitando pela esquina de uma casa, avistou a terrível e monstruosa besta saciar a sua fome. Então, os pés do rapazinho ficaram-lhe colados à terra, não podia movê-los mesmo tentando com toda a força. Num piscar de olhos, o lobisomem saltou do poço de pedra velha do meio do largo e, numa única aterragem perfeita, parou de pé numa figura custosa em frente ao miúdo que caiu de costas quebrando o espelho.
Não conseguia falar, respirar e muito menos mover-se. Isso facilitava a tarefa do lobisomem, cortar a carne tenra e macia de uma criancinha com os seus dentes que mais pareciam lâminas de facas bem afiadas, imaginando o sangue inocente e quente escorrer-lhe pelo queixo. Que delícia! Não podia haver manjar melhor que aquele.
            O monstro ergueu o braço para dar o golpe fatal observando a sua vítima bem nos olhos, mas algo o deteve. Baixou lentamente o braço e a cabeça ficando cabisbaixo, como que desanimado. O pêlo desapareceu, os olhos avermelhados, raiados de sangue e raiva fiaram castanhos, o focinho deu origem a uma cara de um homem novo e, por fim, a boca que outrora estivera cheia de dentes afiados e desalinhados, era agora uma boca normal de homem com dentes alinhados e absolutamente normais.
-Agora é a tua maldição… -disse o homem tanto contente como aliviado, correndo nu para a floresta encantada. O rapazinho ainda não se tinha em si. Os seus olhos, bem abertos pelo medo, reflectiram a imagem do lobo que agora ele levava dentro.
Regressou a casa pouco depois, mudado para sempre.
A partir dessa noite em diante, o jovem cumpria com o seu destino, a sua maldição, afastando-se dos espelhos como os vampiros se afastam de crucifixos ou igrejas.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

???

Estou à beira de um precipício emocional. Não sei porque isso me afecta tanto. Onde está a pessoa fria, sombria e que era um autêntico puzzle para o mundo? Perdeu-se algures entre as sombras das altas árvores do pinhal...
Não me reconheço. Estou sensível, emocionado, magoado, triste. Tanta coisa que me passava simplesmente ao lado, coisas banais agora me torturam. Na minha mente oiço as frias correntes arrastarem lentamente no solo chamando por mim...
Por mais que diga "está tudo bem" e sorria, sei que é mentira, ainda assim insisto em acreditar. Na clara e radiante mentira do dia me oculto. No gelo e solidão da noite me revelo. Tenho perguntas que fazer, respostas que conhecer, mas a minha boca engole a minha língua, e obriga-me a pensar duas vezes, três, quatro...e acabo por me calar.
Os meus pés tomam vida própria e caminham lentos e sonolentos em direcção à porta da entrada aberta para um mundo escuro, medonho, o meu mundo. Está tudo bem. Estou bem.
Não, não estou e cada vez me convenço mais disso. Estarei louco?
Por vezes as pessoas desaparecem, têm traumas, apanham sustos, mudam. Eu não. Começo a pensar que serei um louco reprimido e que temo que um dia acorde num quarto desses almofadados com camisa de forças. Agora mesmo imagino, vejo e regozijo com tal cena. Alguém entende o que escrevo? Alguém me conhece? Alguém faz ideia do que sou?
Parece-me que apenas sou uma peça solta de um quebra-cabeças titã. Um grão de areia numa praia deserta. Mas que raio!

Poisoned with love

Poisoned with love

This is not fair, I am beyond repair cause of you
yo-o-ou, you, yo-o-ou
Can't find my head, so I've fallen instead over you
yo-o-ou, you, yo-o-ou

In my sleep, I get more than you need, yes i do
do-o-o, i do, do-o-o
Frightened you'll creep so i cry in my sleep, yes i do
do-o-o, i do

Oh i i i'm poisoned with love, love
But i i i can't get enough, enough,
So i keep walking on broken glass for you, yo-o-ou
I'll keep walking on broken glass for you, yo-o-ou

This is not fair. but i've lost every care, i want you
yo-o-ou, you, yo-o-ou
I wear these tears and pretend they're not there just for you
yo-o-o, you, yo-o-ou


Oh i i i'm poisoned with love, love
But i i i can't get enough, enough,
So i keep walking on broken glass for you, yo-o-ou
I'll keep walking on broken glass for you, yo-o-ou


Hurting myself, you say that i need help, and i do
do-o-o, i do, do-o-o
under your spell, if you look you can tell i love you
yo-o-ou, i do

Neon Hitch

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Aquele rosto mostra seriedade. com o desafio de seguir a ilusão da vida e não desistir...

Dedicado a Kris

Tudo o que dizes é certo, mas será assim?
Não deverias ficar feliz por ele?
Proteger uma pessoa, especial ou não, é sempre uma tarefa nobre e difícil... que nem sempre é expresso da melhor maneira. Contudo, reconhecê-lo é o mais sábio e sensato a fazer. Magoar uma pessoa, por vezes é sinónimo de que a queremos verdadeiramente, fazemos estupidezes e coisas parvas ou duras para que cresça e aprenda...
Ignorar é um acto que apenas fracos fazem, tu não ignoras. Todos, numa situação ou noutra, somos incoerentes, infantis e irresponsáveis. E fazeres o contrário, não significa que sejas insegura ou fraca.

Romantismo

Os românticos são melancólicos, procuram uma evasão no tempo e espaço. Vivem noutra realidade, realidade essa perfeita e pensam não pertencer a este mundo porque não se identificam com nada dele. (Super verdade!)
Orientam-se pela emoção e sentimentos, ignorando a razão. Sentem-se sós, são incompreendidos, individualistas e empenham-se para eles próprios. Têm uma maneira bastante peculiar de fazer e pensar as coisas. Gostam do entardecer. A natureza para um romântico é chuvosa e triste, cinzenta e amarga, trazendo lembranças consigo. São noctívagos, adoram a noite e são solitários. Tudo o que procuram é o impossível, o ideal perfeito. Procuram-se eles mesmos na boémia, melancólica noite.
O lugar ideal para um romântico é o exótico, paradisíaco, onde tudo é perfeito, o seu inviolável lugar, onde a beleza nostálgica os atrai. A imagem romântica é idealista, impossível e simples, em espaços amplos. Têm imaginação muito fértil e vasta. Gostam de bons mistérios e "contos de fadas". A arte e escrita deles é acessível a todos. Defendem uma cultura descomplicada, voltando-se bastante para o povo.
Bem, isto sou eu.... !

Cemitério frio

De repente o ar arrefeceu e tudo se subjugou à tirania do frio. Uma figura mórbida, sinistra, caminhava lívida pelo relvado gelado do cemitério sombrio, húmido e repleto de cadáveres ocultos, e abandonado, respirando um ar impregnado a morte e a neblina. Nessa sombria madrugada, essa figura, de cabelo ruivo revolto e luzindo um olhar de loucura verde, sucumbiu à dor e, dando um passo em frente, deixou cair-se até se afogar em mágoa e desespero...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Atravessar ou não atravessar?

Uma ponte de madeira antiga que se estende para lá do meu campo de visão directa a alguma coisa sem forma. Atravessar ou não atravessar? Eis a minha questão, porque do outro lado está o desconhecido que me suga como um buraco negro, mas o meu receio e a vontade de ficar no meu trono de agonia prendem-me os pés, paralisam-me o corpo e nada posso fazer senão, indeciso, permanecer imóvel e incrédulo...